Colegas

A relação com os colegas, quer de faculdade, quer de trabalho, é um tema que dá pano para mangas. São com eles que passamos grande parte do nosso dia, partilhamos um espaço, um objectivo, um patrão, etc. O problema é que grande parte das vezes somos muito diferentes, e apesar de tanto em comum, os meios utilizados não tem nada a ver.

Na faculdade, tinha colegas que estudavam para ter boa nota no exame. Outros preferiam usar a cábula ou copiar pelo colega do lado. Nunca me chateei com ninguem por causa dessa opção, mas nunca me relacionei com certos Pedros e Sandras que recorriam sempre à cabula para ter notas muito altas. Um gajo que cabula para o 10, enfim, agora cabular para o 18 é triste.

No esctritório é a mesma coisa. Já não há exames nem cábulas, mas a coisa muda muito pouco. Estamos todos ali porque somos uns vendidos. Queremos ganhar dinheiro. Se não fosse o vil metal, ninguem estava lá. Se aparecer um emprego melhor, ninguem olha para trás.

E, se antigamente havia uma coisa chamada gabinetes, onde cada um trabalhava sozinho e duas ou três vezes por dia cafezinho na cozinha, hoje em dia temos o open space. Levar com não sei quantos colegas no mesmo open space é dramático.

A temperatura ambiente. Há pessoas mais friorentas e outras mais quentes. Eu sempre fui um gajo quente. Estou sempre cheio de calor. Ter a dois metros de mim uma pessoa frígida não é nada bom. É uma daquelas mulheres que mesmo no verão mete o a/c no máximo do calor. Para ela, a praia é muito fria. Mas não se abstem de andar praticamente nua. Podia levar uma roupa mais quente, mas não.

Depois há os que fumam. E os que não gostam do fumo dos outros. Felizmente o fumador do sítio está longe de mais para eu dar com o fumo. Não me incomoda por ai além, mas não me agrada de todo.

Depois há a música ambiente. Apesar da empresa ter adquirido um rádio porreiro, para toda a gente ouvir rádio, há sempre o egoista que prefere ter as colunas do computador a tocar a mesma rádio, com um desfazamento de 10 segundos. Mas esse egoista não se abstem de chamar egoista aos outros por ligarem o a/c quando estão a morrer de calor.

E depois há o trabalho. Para muitos, o trabalho está acima de quase tudo. Fica-se a trabalhar até tarde caso seja preciso, falta-se à aula de natação, ou vai-se à sessão de cinema mais tarde. Outros não estão para isso.

No outro dia, a coleguinha do lado resolveu marcar uma pequena reunião com um cliente. Um cliente recente, com 3 meses de casa. Antes das 18 horas, hora normal de saida do escritório, a bela colega resolveu ligar para o cliente, que estava a chegar, mas presa no trânsito dos nossos dias de chuva. Disse que tinha de sair mais cedo, um compromisso inadiável (tipo ir dar ração ao gato). Depois, pediu-me para receber o cliente. Deu-me instruções do que fazer. Era preciso somar as retenções dos recibos verdes, fazer a guia e entregar ao cliente para pagar, tendo em conta que era o penúltimo dia para o fazer. No entanto, o cliente, quando chegou e soube que a colega do lado já se tinha pirado, antes das 18 horas, ficou descontente, entregou o envelope e não esperou que eu fizesse a guia. Tudo bem, faz-se amanhã, pensei eu.
No outro dia de manhã, quando a colega se lembra de perguntar pela guia, eu disse que não tinha feito. Tendo em conta que o cliente não tinha esperado, tinha ficado para o outro dia, e ela que o fizesse. Resultado: a colega do lado ficou ultra-hiper-mega chateada. Tinha de tar a fazer contas.

Ora merda, não saisse antes da hora! Que grande lata. O cliente é dela, um gajo faz um favor e ainda leva por tabela? Será que não precisam de um contabilista para qualquer lado? Nós rifamos uma egoista friorenta a quem quizer.