quarta-feira, abril 11, 2007

Ainda o caso Sócrates

Assisti hoje à entrevista de Sócrates à RTP1.
Fiquei na mesma.
Para mim, Sócrates não comprou o curso. Não foi favorecido por ser ministro, deputado, ou o que quer que seja.
Gerir uma grande instituição não é fácil. E uma faculdade, com centenas de alunos, é sempre uma grande instituição.
Eu tirei o curso na respeitosa FCUL. Uma colega passou a uma cadeira sem ter ido a exame. O professor enganou-se a lançar a nota a alguém, e ela safou-se. Física, ainda por cima. Outros tiraram o curso à base de cábula, outros conheciam os professores, outros tinham um irmão que já lá tinha andando, enfim...

Conheci outras pessoas que tiraram o curso em privadas. Alguns, porque não se importaram com a secundária, outros porque o curso que queriam só era leccionado numa privada, outros por causa do pós-laboral, por diversos motivos.

Como apenas frequentei a pública, não tenho termo de comparação. Mas ouvi histórias de negociatas de notas às cadeiras. Histórias de vida académica baseadas em borgas, praia, passeios, viagem de finalistas, e nada de aulas. Quer nas públicas, quer nas privadas.

Mais: muitos professores das privadas dão aulas nas públicas. Os mesmos conteúdos. Os mesmos critérios.

Então o que é que distingue estes dois tipos de instituição, e o que motivou as minhas palavras anteriores? O dinheiro.
Numa privada, temos de pagar uma propina. Numa pública também, mas em menor quantidade.
Imaginem-se gestores de uma faculdade privada. O vosso negócio é vender cursos. O vosso público, os clientes, são os alunos. Como em qualquer negócio, temos de pesar os prós e contras, temos de tomar decisões. O cliente tem de ficar satisfeito com o serviço prestado.
Problema: quantos de nós, alunos, é que nos preocupamos com uma formação adequada, competente, íntegra? Muito poucos. O que importa é fazer as cadeiras. Quando um professor nos chumba, é logo um filho da puta. Se um professor usar um critério muito rígido numa pública, azar o dele. Ninguém lhe faz nada. Numa privada, o gestor não acha piada. Porque se ganha fama de faculdade difícil, o que gera má publicidade boca a boca, o que implica perda de potenciais alunos. Por outro lado, o chumbar o aluno também implicada uma nova matrícula, ou seja, o rentabilizar daquele cliente. Talvez por este aspecto, o ensino privado seja desacreditado neste país. Não tanto pela corrupção, que existe em todo o lado, pelos favorecimentos, pelas cunhas, tudo isto existe nas duas versões.
Agora normas internas sobre taxa de aprovação, isso acredito que exista especificamente nas privadas.

Questão: será a avaliação assim tão taxativa? Será que os alunos, apesar de uma avaliação mais mole, não são tão bem ou melhor formados que os das públicas?

Não sei responder à questão anterior. Sei que magooei um amigo ao meter a farinha toda no mesmo saco. Sei que devo uma interpretação mais profunda do que penso acerca disto.
Não sei como me saí.

20 comentários:

Maria Strüder disse...

Erm... existe uma taxa de reprovação obrigatória na minha universidade para eles chuparem ainda mais guito.
Sim ando numa privada.

Anónimo disse...

Ñ entrei na pública pois infelizmente a minha média de 14,7 ñ foi suficiente, e as restantes vagas foram preenchidas por PALOPS.

O favorecimento, pelo que me vão contando, sente-se mais na pública e o desleixo também: é na pública que existem estudante já com 7 anos de mesmo curso. Na privada, pelo menos por onde passei, o sentimento geral era: estudas ou terás de te matar a trabalhar para pagares os teus estudos; aqui não há "abébias".
Acredito no entanto, que nem em todas as Unv. privadas isso acnteça, principalmente as que têm mais a fama de "in".
Sou a favor das proprinas na pública, talvez assim, quem realmente queira estudar e não passear os livros, possa ter acesso a ela.

Anónimo disse...

Aproveito para deixar um comentário à leitora "Maria": se realmente na sua universidade reprovam por taxas e não por o aluno ter aproveitamento insuficiente, então algo não está bem; aconselhava-a a realmente a averiguar o que se passa, e caso disso, a mudar rapidamente de Unv.! Ô_õ
..eu hein. :(

eu mesma disse...

Bem Rui, como sabes, eu também andei na FCUL mas nunca ouvi histórias de favorecimentos no meu Departamento... Felizmente!

Relativamente às privadas... com conhecimento de causa apenas posso referir por exemplo uma colega que dá aulas em duas universidades: uma privada, uma pública e segundo o que ela me diz não há comparação relativamente ao nível de conhecimento dos alunos. As razões para isso parecem óbvias, ou não?

Para mim (e sei que corro o risco de ser mal interpretada) só há dois motivos válidos para se ir para uma privada: horário pós-laboral e a não existência do curso que se quer nas públicas.

E concordo com a posição da Siri, mas só em parte. Pelo menos da minha universidade os alunos dos PALOP não ocupam as vagas destinadas aos alunos que entram no regime geral, daí que não serão eles a causa de não haver vagas. Mas concordo no sentido em que, na maior parte das vezes, eles realmente não andam na universidade a fazer nada. Os porquês disso davam uma longa conversa...

Em relação ao que me diz respeito, felizmente não há muitos cursos científicos nas privadas ...mas já há demais, embora ainda com pouca credibilidade.

E que me desculpem todos os que andam/andaram em privadas...

Anónimo disse...

Em resposta ao comentário acima da "eu mesma", posso dar-te outra razão válida para se entrar numa privada...
Caso real: a minha irmã teve uma média de acesso à faculdade de 17,6(!!!) e não entrou por dois anos consecutivos no curso que queria: arquitectura! Qual seria a solução: ir para um curso de belas artes que não lhe dizia nada ou tirar o curso que realmente gostava numa privada. Optou-se pela segunda hipótese (e bem custou a toda a gente, que não andamos a nadar em dinheiro!). Escolheu a melhor privada do país (para o seu curso): Lusíada do Porto (acreditada pela ordem!!!)e tirou o curso. Hoje é arquitecta (sim, arquitecta porque tem número na ordem) e está a exercer a sua profissão (e com sucesso, diga-se de passagem...)

E agora, o que é melhor... uma pública que quer uma média de 18 (e nega entrada a alunos com 17,6) ou uma privada que fez dela a profissional que ela é hoje?!

GoMi disse...

Não é verdade que a avaliação numa privada seja mais mole que numa publica, nota que só falo do MEU curso na MINHA UnIversidade! Comparação relativamente ao nível de conhecimento dos alunos? Não sei, se avaliarmos as entradas na ordem, a minha UnIversidade privada tem 100% de aprovação nos exames, está em 1º na entrada para a Ordem dos advogados, tem projectos cientificos reconhecidos internacionalmente. Não digo que não haja favorecimentos, mas isso há em todo o lado... Não digo que não tenha havido uma ou outra cadeira mais fácil, mas isso tb não há nas publicas? Podemos falar das melhores Universidades publicas e comprar com as privadas, mas se falarmos daquelas publicas assim assim? Eu tinha colegas na minha UnI que vinham de várias zonas do país para Lisboa, porque a minha UnI privada era melhor que as publicas que ficavam perto deles.
Desculpem qualquer coisinha, mas ando muito nervoso com a situação!

GoMi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GoMi disse...

Outra coisa aqui que ninguém nos ouve, a querer puxar a brasa à minha sardinha (UnI), sabem o que mais me custa? Andar pelas outras privadas à procura de soluções caso a minha feche e ver que em professores e plano curricular a minha era melhor que todas as que já visitei.... e a minha é que corre o risco de fechar... Não há justiça... A Camara de Lisboa tem um prejuizo de *** mil milhões, então fechem aquilo!

eu mesma disse...

bem chussa,

para responder ao teu comentário eu poderia fazê-lo de uma forma muito simples: se a tua irmã não entrou é porque havia pessoas com melhores notas que ela. Claro que isto seria injusto porque não é assim uma questão tão linear ... iríamos entrar na questão das escolas secundárias (e aí tb há instituições onde é mais fácil ter uma boa média).

Sem dúvida que o sistema de numero clausus é injusto. Há pessoas que entram para cursos que não querem só porque têm boas notas...e passam lá anos a fazer não se sabe bem o quê. Pessoalmente, acho que toda a gente deveria entrar nas universidades, e ser convidado a sair caso o rendimento não fosse bom... é utópico, claro!

Felizmente a tua irmã é o exemplo de um caso de sucesso (e ainda bem!) mas já pensaste nas pessoas que investiram tempo de estudo a a tirar cursos em universidades públicas e depois vêm os seus lugares ocupados por licenciados de universidades privadas que muitas das vezes deixam muito a desejar?

Eu espero que tenha ficado claro que não estou totalmente contra as universidades privadas, mas claro que não posso concordar com o que se passa em algumas delas. Acho que cada situação é uma situação... e não vale a pena tentarmos meter tudo no mesmo saco. Todos conhecemos bons e maus exemplos de conduta em universidades públicas e privadas.

Acho que o problema é mesmo o sistema de ensino em Portugal! Pronto, pode ser a maneira mais fácil de rematar a questão, mas há questões que são realmente difíceis de avaliar de forma linear.

Sandrinha disse...

Olha sabes o que eu te digo?
Faz como eu e vem morar para a Suiça!

Anónimo disse...

Bem, na minha área, nunca ouvi falar de favorecimento por ser da privada ou da pública. Em termos laborais, o que conta são os conhecimentos e o seu grau hierárquico na instituíção.
Eu nem falo mais nisto, pois faz-me mal:
http://sokedih.blog.simplesnet.pt/archive/024169.html
...mesmo muito mal. Principalmente depois de ver a degradação de mais um edificio de interesse histórico e artístico na zona de Almada.
Mas lá está, cada caso é uma caso com as suas próprias vertentes.

E sim, o ensino está mal em Portugal, como qualquer outro sistema português.
E as pessoas continuam a não ior às urnas. Enfim. Já nos estamos a afastar do post do Rui...

Rui Silva disse...

Será que estamos Siri?
Se calhar estamos a chegar à conclusão que a educação precisa de ser revista em Portugal. E não é uma pequena revisão, como as reformas frequentes que eu apanhei ao longo do secundário e mesmo da faculdade. Não é mudar o nome a meia dúzia de cursos e/ou cadeiras.
Falava-se tanto que Salazar queria um povo inculto e analfabeto. E agora, o que é que se quer?

my name disse...

há as melhores privadas
há as melhores públicas

o mais vulgar, infelizmente, é um ensino pouco exigente (privado ou público) e pouco envolvente... porque o equilíbrio entre o aprender a aprender com base no nosso esforço e o acompanhamento que os docentes nos devem dar é difícil... o resto, é mais diploma menos diploma, mais nota menos nota. nenhum curso faz profissionais competentes, isso só o tempo e o querer melhorar.

ainda assim defendo o ensino superior público, é por ele que mais devemos lutar.

GoMi disse...

Se vivessemos num estado justo e perfeito, ninguém teria de pagar pela sua educação, mas não vivemos... Mas isso não é apenas um problema Português!
Na America, as melhores Universidades são as privadas...
Mas acho que finalmente percebi o problema: "mas já pensaste nas pessoas que investiram tempo de estudo a a tirar cursos em universidades públicas e depois vêm os seus lugares ocupados por licenciados de universidades privadas que muitas das vezes deixam muito a desejar?" Não pensas nos alunos das privadas que investem tempo e dinheiro para pagar os seus estudos e ainda os impostos que pagam os estudos dos que tiveram a sorte de entrar para as publicas. Cada pessoa tem o seu valor independentemente do sitio onde tire o curso.

my name disse...

"sorte" de entrar nas públicas?
é bem maior a "sorte" de quem nasce em berço que pague a privada. e a maior parte das vezes sabem bem que o "investimento" não está a ser feito na qualidade.

GoMi disse...

Sim, tens razão, "sorte" não foi a melhor escolha!
Mas também não foi boa escolha berço que pague a privada. É mais trabalho que pague a privada.

Quintanilha disse...

Amigo Rui, à altura dos factos, José Sócrates, não era primeiro-ministro, nem ministro, nem secretário de estado. Era um deputado em início de carreira do qual pouco se tinha ouvido falar!
Mas eles, insistem em apresentar os factos como se tivessem ocorrido na semana passada!

Marta disse...

Na minha opinião andar numa Instituição Pública ou Privada é indiferente o que interessa é o que nós fazemos enquanto lá andamos. Como se estuda e se usa a cabeça. Se fores de esquemas, não interessa onde andares irás utilizar esse esquema, se és um aluno brilhante irás sê-lo em qualquer sítio. Talvez fossem esses anos que me mostrassem, mais explicitamente,como a vida é injusta e desigual. Um 12 meu se calhar tinha mais valor que muitos 16's. Mas isso não interessava nada. E o certo é que eu tenho a minha consciência de bem comigo , não sou nenhuma fraude!

Cláudia disse...

Isto está on fire...

Anónimo disse...

ó quintanilha, ha assuntos bem mais importantes que este. Mas este criou polemica, e precisamente depois da entrevista do PM ainda fiquei com mais duvidas. O gajo mente com todos os dentes que tem na boca.

Ele mudou por ser perto do ISEL? que tem a ver? Mudou por ter horario pos laboral? O ISEL tbm o tem. As notas foram lançadas em Agosto? Isso é possivel? as minhas nunca foram lançadas em Agosto, e muito menos no mesmo dia.

... ha realmente factos que nao batem certo!