Moro em Linda-a-Velha desde sempre.
Quando era puto, lembro-me de ir a pé para a escola. Ficava mesmo ali ao fim da rua. Quase trânsito nenhum, poucos carros em cima dos passeios. Cheirava a pinhal.
A minha escola tinha uma vista privilegiada para o Jamor. Ia passear ao pinhal, apanhar pinhões. Era uma festa, apanhar um monte de pinhões, escolher uma pedra enorme e outra pequenina, e parti-los ali mesmo, para a seguir os comer. Acredito que a minha boa saúde se deve, em parte, a estes pinhões e ao ar puro que respirei.
O tempo passou e...
Os pinheiros deram lugar a uma nova Linda-a-Velha. Nasceram dezenas de prédios. Agora em vez de cheirar a pinhal, cheira a lareira no inverno e a ar condicionado no verão. En vez de pinhões, apanha-se cocó de cão. Os passeios estão cheios de carros, e o trânsito só sossega madrugada dentro.
Mesmo assim Linda-a-Velha continua a ser um sítio aparte para se morar. E porquê? Porque continua a estar rodeada por ar puro. Apesar dos Magalhães bem quererem, ainda não conseguiram acabar com o resto da mata do Estádio Nacional. Há menos de cinco anos, numa noite de apagão, consegui ver centenas de pirilampos, a 100 metros da urbe. A proximidade do centro de Lisboa, os bons acessos, o escapar às portagens da A5, enfim...
O que eu acho piada é que muitos dos edifícios, da década de 80, construídos com garagens, acabam por ter estas ocupadas por pequenas empresas. Administrações de condomínio, floristas, cabeleireiros, clínicas, armazéns, lojas.
Lojas.
Era este o tema que eu queria pegar neste post.
Uma dessas lojas, foi em tempos um mega-escritório. Instalado numa cave, com pouca luz e quase sem ar natural. Haviam vários aqui na D. Pedro V. Fecharam não sei por que motivo. Desconheço tambem que empresas funcionaram lá. Mas sei que gostava de olhar pelas janelas, ver COMPUTADORES, coisa rara em 1986-1990. Até que colocaram vidros espelhados!
Como dizia, esses escritórios fecharam. Um deles nunca mais vi lá actividade. O outro sofreu obras, e virou um Dia. Aqueles supermercados espanhois, chamados lojas de desconto alimentar, que surgiram algures na década de 1990.
(Que giro, vi agora na televisão que o Continente também já tem cartão de desconto)
Continuando, esse supermercado espanhol, que era discriminado por ser espanhol, lavou a cara e virou Minipreço. Os mesmos produtos espanhois, mas uma cara Portuguesa. E o da Dom Pedro V tornou-se um caso de sucesso.
Carros em segunda fila, montes de pessoas a entrar e sair, o primeiro Multibanco aqui na zona, etc. etc. etc. O meu cão é fã de montes de produtos deles, desde os biscoitos às tirinhas. Da Pedigree não lhes toca. Do Minipreço come aos pontapés.
Antes de eu fazer dieta, comprava lá bolachas, iorgurtes, pizzas de atum, entre outros. Excelente relação qualidade preço. Claro que as pizzas do Pizza Hut são melhores. Mas custam dez vezes mais. E depois os talões de desconto, com o cartãozinho que se mete no porta-chaves.
O ano passado o Minipreço fechou para obras. Já tinha acontecido o mesmo com um em Miraflores. Mas este não voltou a abrir.
Embargado? O meu cão precisa de comer porra!